O Impulso (Ashley Audrain)

“Você me queria alerta e paciente. Me queria descansada, para eu poder cumprir com meus deveres. Antes, você costumava se preocupar comigo como pessoa – minha felicidade, as coisas que me faziam bem. Agora eu era uma prestadora de serviços. Você não me via como mulher. Eu era apenas a mãe da sua filha.” (Página 67).

A narrativa da história de Ashley Audrain é feita em primeira pessoa, por Blythe. Blythe que vem de uma família sem bons modelos maternos e que sonha em ser uma mãe melhor para seus filhos. Mas essa experiência não acontece da forma como ela almejava. A adaptação de Blythe à maternidade é dura. Seu relacionamento com sua filha não flui e as implicações disso para o seu casamento não são das melhores. Mas, se engana quem pensa que esse é só um livro sobre casamento e maternidade, Audrain tempera essa mistura com um toque de suspense muito bem conduzido e que mantém o leitor ligado até a sua conclusão.

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A História de Shuggie Bain (Douglas Stuart)

A história se passa na Glasgow dos anos 1980 e 1990, quando a depressão econômica fechou fábricas, estaleiros, carvoarias, deixando à própria sorte a vasta classe trabalhadora da cidade. O romance com traços autobiográficos traz como tema principal a parentalização infantil, que ocorre quando o filho passa a se encarregar das funções parentais conforme entendidas no contexto sociocultural e histórico em que ele vive. É esse papel que Shuggie Bain, o protagonista desta história, teve de assumir ainda na tenra infância. Ao mesmo tempo que teve que lidar sozinho com as diferenças que ele via entre ele e as outras crianças de sua idade e todos os abusos que sofreu advindos disso.

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Colecionando Textos #89

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A Terceira Vida de Grange Copeland (Alice Walker)

A Terceira Vida de Grange Copeland é o primeiro romance de Alice Walker. Escrito entre 1966 e 1969 foi finalizado quando Walker tinha apenas 25 anos. Com sua trama pungente, dolorosa e que causa asco e revolta em muitas de suas passagens, Walker entrega uma trama de um ciclo sem fim de sonhos e projetos para o futuro, sendo massacrados por repetidas derrocadas que perpassam gerações na família Copeland. Com eles, uma família negra do sul dos Estados Unidos, Walker escancara o ciclo do racismo ao qual muitos negros se viram presos durante a chamada reconstrução pós abolição.

Pode-se reconhecer três grandes partes na obra de Walker, três partes de um ciclo que engloba três gerações da família Copeland. A primeira começa no núcleo familiar composto por Grange, Margaret e Brownfield, este último quando tinha somente dez anos. A trama tem início com Brownfield e os pais se despedindo dos tios e primos que moram na Filadélfia. Estabelece-se assim o confronto de realidades distintas e contundentes, um exemplo caro do “racha” norte versus sul para a comunidade negra norte-americana. Ali na Georgia, a vida da família Copeland segue sem perspectivas de melhorias e em cinco anos Brownfield vê a sua vida sofrer uma guinada, para pior. O pai foi embora, a mãe e o irmão menor morreram, Brownfield foi deixado sozinho, deixado para herdar o destino do pai, de se tornar um eterno devedor de um homem branco. Ele foge com os pensamentos no norte, mas acaba parando em um condado próximo…

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Colecionando Textos #88

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Forward (Blake Crouch e outros autores)

Depois da minha experiência positiva com o Blake Crouch (se você ainda não leu “Matéria Escura”, leia), é claro que eu iria dar uma chance para uma coletânea idealizada por ele e que conta com autores como N. K. Jemisin de “A Quinta Estação” e Andy Weir do divertidíssimo “Perdido em Marte”.

Pensar no futuro. Essa foi a grande questão proposta por Crouch. Para ser mais específica, ele queria criar uma história sobre e levar outros escritores a escrever sobre a futurologia. A futurologia busca equilibrar os referenciais quantitativos com uma leitura subjetiva de possíveis desdobramentos futuros, partindo da análise de dados disponíveis no presente. São esses mundos novos, pensados a partir de nossa realidade atual, que Crouch nos convida a conhecer.

São seis contos e é Crouch que inicia essa jornada com “Summer Frost”, no qual ele brinca com o conceito de realidade. A trama que lembra uma mistura de Matrix, Jogador n° 01 e Westworld traz Max, uma I.A. (inteligência artificial), como protagonista. Ela que foi “criada” por Riley, originalmente para um jogo, mas que se desenvolveu de uma forma inimaginável, que Riley a “extraiu” do jogo e agora vive a ter “sessões” com Max. Crouch traz para discussão um dos assuntos mais controversos quando falamos sobre o que esperar do futuro. Serão as I.A. transformadas em superinteligências incontroláveis pelos humanos e que poderão provocar nossa destruição? Esse temor percorre toda a narrativa do conto, que tem um ritmo alucinante e garante uma leitura frenética.

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Colecionando Textos #87

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Quarto de Despejo (Carolina Maria de Jesus)

“Quando estou na cidade tenho a impressão que estou na sala de visita com seus lustres de cristais, seus tapetes de viludos, almofadas de sitim. E quando estou na favela tenho a impressão que sou um objeto fora de uso, digno de estar num quarto de despejo.”

 (página 37)

Se você é leitor, acompanha perfis literários ou mesmo nos estudos de literatura na escola, é bem provável que já tenha ouvido falar em Carolina Maria de Jesus. Mulher preta, favelada, catadora de papel e sem estudo formal que encontrou na expressão das palavras, pousadas nas folhas usadas nos cadernos achados em sua lida diária, a força para enfrentar os percalços e a triste realidade daqueles a quem todo o restante da sociedade quer tornar mais invisíveis do que já são.

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Colecionando Textos #86

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Rinha de Galos (María Fernanda Ampuero)

Rinha de Galos é uma coletânea de treze contos. Treze histórias nas quais María Fernanda Ampuero traz a realidade para a ficção e escancara a violência, em suas mais variadas facetas, mas sempre ali, tendo as mulheres como principais vítimas de suas vorazes garras. “Acho que escrevo como escrevo porque estou furiosa, porque a violência contra os mais fracos, principalmente meninos, meninas e mulheres, me enche de raiva e não sei como lutar para tornar visível toda essa violência. Escrevo para gritar, acho. Escrevo gritando.” Ressignificar, amplificar e divulgar a realidade, talvez seja um dos papeis mais significativos da literatura e Ampuero o faz com maestria. Com um texto potente e envolvente que escancara o Equador, mas que também ressoa muito o cotidiano de toda a América Latina.

“Certa noite, a barriga de um galo estourou enquanto eu o carregava nos braços como se fosse uma boneca, e descobri que aqueles homens tão machos que gritavam e atiçavam para que um galo rasgasse o outro de cima a baixo tinham nojo da merda, do sangue e das vísceras do galo morto. Assim, eu passava essa mistura nas mãos, nos joelhos e no rosto, e eles paravam de me importunar com beijos e outras idiotices.” (Página 9).

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